Já se passaram mais de 50 anos desde a segunda onda do movimento feminista, e podemos perceber que a independência que boa parte das mulheres conquistou (ou conquistaram?)vai além do mercado de trabalho. Nas relações pessoais, por exemplo, muitas não precisam mais se sujeitar às vontades de seus familiares ou do marido. Mas será que todas se beneficiaram com essas mudanças? Que papéis elas têm desempenhado?
Deixando de lado os extremos s, vivemos um fenômeno atual: ao mesmo tempo em que as mulheres defendem a igualdade de direitos entre os gêneros, elas permitem pequenas desigualdades quando se trata de encontrar um homem provedor, que demonstre força ou, na versão mais leve desse comportamento, cavalheirismo. Isso acontece porque, conforme explica a psicóloga clínica e diretora da Redespertar Humano – Psicologia Organizacional, Marta Spomberg, a sociedade está mudando, mas o imaginário feminino ainda carrega traços dos dois tipos de pensamento, o contemporâneo e o antigo.
Dessa maneira, não é raro encontrar quem busque um equilíbrio em meio ao turbilhão de cobranças sociais e à necessidade de negar ou reforçar ensinamentos transmitidos ao longo das gerações. “Embora tenhamos avançado nesse sentido, os arquétipos (imagens estruturantes) ainda não se transformaram por completo, uma vez que as mudanças da consciência subjetiva não acompanham a velocidade e as transformações do comportamento”, explica a psicóloga.
Assim, podemos ainda encontrar mulheres à espera de homens que paguem as suas contas,e conduzam as suas escolhasEntre eles, por sua vez, existem aqueles que desejam uma companheira passiva e obediente, que se dedique única e exclusivamente ao parceiro e à família.
A terapeuta Triana Portal analisa o outro lado da moeda: as modificações na sociedade aumentaram a cobrança em relação às mulheres. “Hoje, sofremos pressão de vários lados. Precisamos ser boas em tudo ou, pelo menos, dar conta de uma infinidade de tarefas. Temos que provar a nossa competência no trabalho, pagar as contas, cuidar dos filhos, dar atenção para o marido, estar sempre magras, arrumadas, sorridentes... É muita coisa!”, enumera.
Por esse motivo, muitas optam por se dedicar às suas carreiras, abrindo mão da maternidade e da vida em família. “Isso não significa que os relacionamentos foram afetados. Simplesmente houve uma quebra de paradigma na crença de que as mulheres nasceram para serem esposas e mães”, defende Marta.
Como ficam os homens nessa equação?
Por mais que as relações tenham mudado, Marta considera que a imagem masculina idealizada continua sendo a de força e virilidade. “Ainda é estruturador para muitas mulheres, por mais independentes que sejam, projetarem neles a ideia de proteção e de reconhecimento das suas virtudes. Não sei se elas realmente valorizam os ‘homens à moda antiga’. Afinal, eles eram machistas e não permitiam qualquer forma de expressão ou autenticidade das mulheres. A busca, na verdade, seria por alguém que as valorizassem, sendo, ao mesmo tempo, companheiro e romântico. Ou seja, homens modernos que despertem alguns de seus aspectos femininos, assim como as mulheres despertaram vários das suas aptidões masculinas”, defende.
E Triana complementa: elas esperam um cortejo por parte deles. Em outras palavras: a conta do restaurante não deve ser uma obrigação da parte masculina, mas, sim, uma gentileza, mesmo no século XXI. “É uma questão de elegância, educação. Ainda se espera do homem que ele carregue um objeto pesado ou deixe a mulher entrar primeiro no elevador”, comenta.
Na contramão das conquistas femininas?
A questão aqui não é somente sobre o feminismo ou os direitos iguais, mas a tendência para escolher o parceiro com quem o futuro seria mais seguro. “De forma inconsciente, a mensagem é: se ele cuida de mim, será um bom pai, defenderá a sua família ”, afirma.
Existe também a questão de que, por mais avanços que a mulher tenha conquistado nas últimas décadas, ainda há muito trabalho a ser feito. “Essa valorização do feminismo é algo controverso. A denominação mais adequada seria pseudovalorização. As mulheres ainda ganham salários inferiores em relação aos dos homens, dificilmente ocupam cargos mais altos e, quando isso acontece, é porque abriram mão da vida pessoal. Se um filho fica doente, quem falta no trabalho: o homem ou a mulher?”, questiona Triana.
A terapeuta ainda chama atenção para o fato de que alguns homens tenham se acomodado por conta do feminismo: “Há um grande número deles que se aproveita da independência feminina para não assumir o seu papel no relacionamento. Além disso, tornaram-se mais orientados pelo prazer, casam mais tarde, não têm a pressão de construir patrimônio ou de poupar para cuidar da família”, analisa.
De qualquer modo, há um longo caminho a seguir. E Marta Spomberg conclui: “Já tivemos inúmeras vitórias, mas ainda falta muito! Embora existam avanços, a sociedade não se conscientizou dos direitos plenos das mulheres”.
Você acha que a mulher já conquistou todas as questões importantes? Ou mudanças no pensamento tanto dos homens quanto das próprias mulheres ainda são necessárias? Deixe a sua opinião!
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